terça-feira, 23 de setembro de 2008

Exercício 7

Contrastes de uma avenida Beira-mar



Dona Edileusa é disposta. Acorda todos os dias antes das 5h da manhã. Depois de rapidamente lavar o rosto, já está se preparando para vestir a farda. Sim, é um ofício o que vem a seguir. Não se trata de uma obrigação, mas de um prazer. O próximo passo é dar início a uma caminhada de 6km, ao lado do companheiro há 38 anos, seu Valdir.










Pela extensão de um dos cartões postais de Fortaleza, a Beira-Mar, muitas histórias se misturam à de dona Edileusa. Às 6h da manhã, os passos ainda são preguiçosos. O vendedor de peixe grita para atrair os clientes; jovens, crianças e principalmente idosos também madrugam para se exercitar; bêbados caídos depois de uma noite suja atrapalham os mais apressados. A visão já não tão boa dos 67 anos de dona Edileusa consegue enxergar o dia-adia desse trecho da orla da cidade. "Os assaltantes agem principalmente à noite, perto do mercado dos peixes, no final da Beira-Mar",avisa a simpática senhora. "Nem o ministro escapou", completa ao citar o caso do furto de um cordão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.








A caminhada de dona Edileusa vai só até 8h 30min, tempo suficiente para reencontrar novos e velhos amigos, sentar para um bate-papo na Praça dos Estressados e tomar um suco (com adoçante) ou uma água. E nesse calor de 30º ou mais, quem resiste a um picolé? Mas a vida por lá, se estende por muitas horas: não pára. Os mais preguiçosos começam os exercícios já com sol a pino. Turistas não se cansam de tirar fotos para emoldurar a beleza da cidade (foto).






E assim passa o dia até cair a noite. Um outro cenário começa a ser montado: as barracas de feiras-livres. Vendedores ambulantes se quintuplicam, tumultuando ainda mais a passagem dos "atletas" e turistas que se engalfinham em busca de espaço. Uma triste realidade desse espaço multicultural, étnico e social que se tornou a Beira Mar. A opulência dos prédios e hotéis de luxo que valem milhões contrasta com as casinhas de papelão na beira da praia. Não é de se admirar que um lugar assim atraia não só pessoas como dona Edileusa mas também assaltantes.




Eles disputam a sobrevivência ao lado do engraxate, dos vendedores de quadros, cajicas, mugunzás, milho cozido, algodão-doce, sapatos, relógios, bolsas e roupas da moda fabricados em Taiwan. Isso sem falar nas dezenas de restaurantes e quiosques e nos anúncios de show de humor em carros de som espalhados nos 6 Km da Beira-Mar. Um caos urbano que sintetiza um pouco da nossa cultura. Todos estão lá para defender uma renda mínima, nesse mercado cada vez mais informal. Não é opção. Foi o que restou de alternativa, alegariam alguns.









Prostitutas, travestis e michês também dão a cara (eu falei a cara!). De dia, estão escondidos nas mesas dos quiosques, geralmente acompanhados dos gringos. À noite, quando dona Edileusa dorme ao lado do marido, estão todos produzidos e perfumados, em cada poste ou esquina à espera de um carro ou de um turista, preferencialmente estrangeiro. Chegam a faturar até R$ 300, 00 por noite. É a difícil "vida fácil". E entre uma esquina e outra, crianças e adultos maltrapilhos e maltratados cheiram cola, dormem sobre a areia ou em pedaços de papelão depois de uma noite de pequenos furtos e mendicância.





Bela e triste Beira-Mar. Um local com muitos contrastes. Uma pequena fotografia do ocorre em nosso país. Para quem conhece essa realidade tão presente em outros pontos deste nosso extenso país, gostaria de ter a opinião aqui postada Participem de uma enquete aqui ao lado.











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2 comentários:

Márcio Fernandes disse...

Em qualquer parte do Brasil, exitem situações parecidas ou iguais, as vividas aqui na nossa cidade.Acho que alguem precisa tomar uma providencia o mais rápido possivel. Parabéns pela sua matéria, muito importante falar sempre sobre esse assunto, pra ver as pessoas se conscientizam mais.

Curso Jornalismo Online segunda edição disse...

Clayson,
Post excelente, muito bom mesmo. Senti apenas falta de algumas coisinhas:
1) Uma foto de Dona Edileusa em uniforme. Você não chegou a explicar que tipo de uniforme ela usa. Uma foto já diria tudo.
2) Delocar a foto da praça dos Estressados para a parte do texto onde você menciona o local. No topo do post,a gente não valoriza o nome que é o mais curioso, porque a menção vem bem abaixo. Juntando uma coisa com outra você consegue o máximo efeito.
3) Talvez um mapa ajudasse a quem é de fora a entender um pouco melhor a caminhada da dona Edileusa.Mapa do tipo Google.
Um abraço e parabéns
Castilho

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